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ALUNOS DA EPO E EHF ENTREVISTAM FRANCISCO VIEIRA, DIRETOR EXECUTIVO DA INSIGNARE

O Diretor Executivo da INSIGNARE foi entrevistado por 3 alunos da Escola Profissional de Ourém e 3 alunos da Escola de Hotelaria de Fátima. Num momento informal, os alunos tiveram oportunidade de conhecer quem é o homem que está à frente da Direção das Escolas, conhecendo um pouco do seu dia a dia, dos seus sonhos, das suas preocupações e ambições.

 

O que o levou a fundar a escola?

A escola surgiu há 26 anos, no âmbito de uma reunião da Aciso, que recebeu uma comunicação da Federação do Comércio Retalhista Português a informar que iria ser criada uma nova oferta formativa, o ensino profissional, com o objetivo de colmatar a extinção das escolas de comércio e indústria na sequência do 25 de Abril de 74. Esta decisão do Governo de criar aquilo que se veio chamar escolas profissionais. A Direção da ACISO considerou a ideia interessante e decidiu propor à Câmara Municipal, na altura presidida por Mário Albuquerque, uma parceria para este projeto. Dela resultou aquilo que hoje todos conhecemos, a Insignare e as suas duas Escolas, para além das restantes valências e áreas de atividade. Na altura eu andaria pelos 30 anos, tendo regressado uns anos antes de Coimbra onde me tinha licenciado em História. Trabalhava na atividade comercial da família, ajudava na contabilidade e dava umas aulas no Centro de Estudos de Fátima. Aceitei o convite para liderar o projeto, na expectativa de que ele me iria ocupar pouco mais do que um dia ou dois por semana. A partir daí também a história é de todos conhecida.

 

Qual a sua opinião sobre o ensino em Portugal e quais os maiores desafios que as suas escolas enfrentam diariamente?

O ensino em Portugal precisa de estabilidade. Não podemos mudar as políticas de educação sempre que muda um Governo, um Ministro, ou até um Secretário de Estado. Mas é isso que tem acontecido nos últimos anos em Portugal. Só a definição de uma política de educação, com metas e etapas bem definidas, permitirá assegurar a estabilidade ao nível da gestão e garantirá a qualidade do ensino. A excelência que tanto se apregoa, só será atingível se todos conhecerem bem as regras do jogo e estas forem iguais para todos. O que quase nunca acontece. E é este o grande desafio que as escolas Insignare enfrentam diariamente. Uma permanente alteração das regras, impede a conceção de um planeamento a longo prazo e proporciona uma forte instabilidade. 

 

É a favor da mudança? O que mudaria nas escolas?

Sou completamente a favor da mudança, mas uma mudança planeada e estratégica. Não pode ser uma mudança qualquer, tem de ser continuada, refletida, uma mudança pensada, que acrescente valor, inovadora. As escolas profissionais precisam sobretudo de se aproximar, cada vez mais, do que é a realidade vivida nas empresas, têm de ajudar a formar alunos  que sejam capazes de responder às necessidades do tecido empresarial. Têm de ser ainda mais do que isso, não basta dizer que estamos a formar jovens, temos de formar cidadãos capazes de responder aos desafios que a sociedade atual lhes impõe. Temos ainda de reforçar a relação com a família, mas uma relação de tripla responsabilização (escola, aluno, família). Penso que se deve construir um modelo assente na liberdade das formas de aprender, onde o aluno possa decidir os caminhos que pretende seguir, sendo menos balizado e mais apoiado. Um ensino profissional onde a aprendizagem prática seja o eixo central, apoiado no reforço dos trabalhos de grupo, nas novas tecnologias e na relação com as empresas. 

 

O que lhe dá mais orgulho na sua “obra”, ou seja, nas escolas?

O que me dá mais orgulho, em primeiro lugar, são os alunos. São eles o “produto” final do nosso trabalho. A sua qualidade de desempenho profissional e pessoal, são o nosso maior orgulho. Especialmente quando eles atingem níveis de reconhecimento profissional, ou mesmo não tendo conseguido esse reconhecimento, quando eles próprios referem que são melhores cidadãos e melhores profissionais por terem estudado nas nossas escolas.

 

Qual a pior e a melhor caraterística do seu trabalho? 

A pior caraterística é a monotonia. Tenho uma aversão à monotonia, não consigo fazer a mesma coisa durante muito tempo, e no meu percurso profissional tive a felicidade de poder escolher o que queria fazer. Gosto muito de trabalhar em projetos. Ter objetivos, se possível ambiciosos e persegui-los até à sua concretização. A melhor caraterística tem a ver com a capacidade de planeamento, olhar o futuro de forma inovadora e chegar lá algumas vezes antes dos outros. Aqui nas nossas escolas, uma grande caraterística é comunicarmos abertamente aquilo que fazemos. Há sempre coisas a acontecer e isso rompe com a monotonia. E uma escola não pode ser monótona, tem de ter capacidade para olhar o futuro, percebê-lo e reagir. Inovando e criando, em permanência.

 

Como consegue conciliar a gestão das duas escolas? O que falta para ter as duas melhores escolas profissionais do país?

Eu diria que é a experiência. A aprendizagem profissional em áreas distintas, mas complementares, e o forte conhecimento da realidade das escolas ajudam muito. Depois a qualidade das equipas que connosco colaboram é essencial, desde os dirigentes intermédios, até aos responsáveis por tarefas mais simples. Finalmente o profissionalismo. Não estamos aqui para fomentar relações de amizade, mas para atingir objetivos, porque é isso que esperam de nós as nossas entidades proprietárias, os nossos alunos e as suas famílias. Vejamos: o que fizemos em Fátima nos últimos 6 anos é gratificante. A escola mudou de instalações, duplicou o número de alunos e garantiu um bom reconhecimento do setor. Mas mais interessante que o caso de Fátima, penso que é o da EPO. A escola apresentava um padrão de acentuada monotonia, vinha perdendo anualmente alunos e a sua oferta formativa apresentava-se repetitiva e cansada. Para inverter esta situação houve necessidade de investir, alterar o conceito estratégico para Escola Oficina, apostar em áreas mais práticas e com uma relação mais próxima com as empresas. Nos últimos 6 anos apresentámos 5 novos cursos na EPO, orientando a oferta formativa para aprendizagens eminentemente práticas.

O que falta para ter as duas melhores escolas… diria que o que falta são as novas instalações na EHF, o reforço de equipamentos técnicos na EPO, afinar diariamente procedimentos e sermos incansáveis na perseguição dos nossos objetivos estratégicos. É fundamental reforçar os níveis de comunicação interna e de empenhamento de todos os colaboradores. A Insignare é um projeto coletivo e sem essa dimensão plural dificilmente se conseguirá superar. A implementação em curso dos processos de certificação de qualidade (ISO 9001 e EQAVET), irão melhorar decididamente a nossa organização e a qualidade do nosso desempenho. Brevemente seremos garantidamente muito melhores. 

 

O que é necessário para ser um diretor?

Para se ser um diretor é preciso ter muita paciência, saber ouvir, ter capacidade para decidir rápido e bem, tantas vezes quanto possível. Não ter medo de correr riscos e de aceitar desafios. Formação de base, disponibilidade permanente para aprender, saber delegar, acreditando no trabalho dos outros e dando a cara por eles quando erram. Saber ler nas estrelas…

 

Se não fosse diretor o que seria?

Acho que seria jornalista. Antes de ir para a Universidade, era isso que queria ser. Já escrevia para os jornais, mas na altura não havia essa formação em Portugal. Tive um amigo que me sugeriu ir para França, para a Sorbonne, mas o meu pai não deixou, disse-me que Paris era muito longe e eu acreditei. Se soubesse o que sei hoje tinha ido. Sabem que antes de 1974, Portugal era um país muito fechado, vivíamos muito isolados, tudo o que existia à volta parecia muito distante. Era um país demasiado cinzento.

 

Qual o seu maior medo enquanto diretor e enquanto pessoa?

O meu maior medo enquanto diretor tem a ver com a capacidade de nos deixarem cumprir os projetos que temos em mãos: manter as escolas a funcionar de modo estável, seguro, inovador. Nestes últimos dias estamos em luta com a aprovação dos cursos nas escolas para a oferta formativa do próximo ano letivo. Somos escolas cada vez mais especializadas e lutamos por essa afirmação de qualidade. Em termos pessoais, a saúde… não tenho medos, diria antes receios. 

 

Gostaria de ser mais reconhecido ou de ter um maior reconhecimento pela sua profissão?

Se exercesse a atividade docente sim, sem dúvida, gostaria que a classe dos professores fosse socialmente mais reconhecida. Enquanto pessoa e no cargo que desempenho sinto que tenho o adequado reconhecimento.

 

Sendo formado em História, o que o leva a ser um estratega? Ou antes um visionário?

Isso é quase um super elogio! Em História, estudamos estratégia. Fui para o curso de História por mero acaso, mas o tempo de estudante universitário em Coimbra foi fantástico… No meu grupo de amigos discutíamos temáticas muito interessantes, até à exaustão, liámos e falávamos de política, cultura, cinema, literatura… O meu tempo de universitário foi a seguir ao 25 de abril de 1974, acreditávamos que íamos construir um Mundo novo, talvez daí a questão do visionário! A estratégia tem a ver com a aprendizagem que fiz na Universidade. Aprendi uma história política e económica, o que me permitiu olhar estrategicamente para o futuro. Pode ser que para responder a isso o meu signo ajude, sou Aquário.

 

Se frequentasse a escola, que área escolheria e porquê?

Pastelaria! Cozinha e pastelaria porque gosto de cozinhar, apercebi-me disso há pouco tempo e gosto muito. Já atinjo níveis de bons níveis de complexidade. E gosto sobretudo de ver os outros felizes e uma boa mesa ajuda muito. Também porque é um curso criativo e muito artístico.

 

Qual o sonho para concretizar a nível profissional?

Um sonho a realizar, já antigo, será construir a Escola de Hotelaria de Fátima, por várias razões: sou de Fátima, tenho trabalhado muito nesta área, acredito que faz sentido, acresce valor à região e a Portugal. No dia a dia… tenho um objectivo, o de ter alunos cada vez melhores e por isso serem reconhecidos, como pessoas e como profissionais.

 

O que faz nos tempos livres?

O meu hobbie é andar a pé! Mesmo às vezes com algumas dificuldades. Gosto também de ler, escrever e gosto de viajar. Gosto de viajar de carro e a pé! Gosto de ir por terras pequenas, conversar com as pessoas e gosto muito de planear as viagens. Gosto das pessoas, de locais simples, não gosto de sítios turísticos e com muita gente. Caminho na procura do silêncio, se  possível por entre a natureza.

 

Se pudesse escolher uma pessoa que não conhecesse, um local e um prato para passar um serão, quem e quais seriam os eleitos e porquê?

Uma pessoa… Barbara Streisand, pela sua personalidade fantástica, pelo que fez ao longo da sua carreira. Pelo seu elegante nariz. Um local… Castelo de S. Jorge, em Lisboa, que tem uma vista fantástica sobre o tradicional casario alfacinha, num final de tarde… Um prato… Bacalhau à Brás, acompanhado por um bom vinho tinto do Douro.

 

O que dizem os seus olhos?

Os meus olhos dizem… dizem coisas difíceis nesta altura da minha vida… dizem que devo ter Fé, Coragem e Dignidade!

 

O que se vê neste preciso momento da sua varanda?

A minha varanda é linda, fantástica, e mágica! Permite-me ver muito longe… ver coisas simples… neste preciso momento, “dela avisto o mar da Nazaré que a reflete em tons de azul e prata. A ela, a mim e a tudo o que está por trás. Projetados no cintilar deste imenso espelho onde adormece o Sol, multiplicam-se rostos. Dos amigos, unindo corpos num escudo que nos protege contra as hordas daqueles que nos querem mal. E por entre vómitos de medo e traição, no calor da refrega, alguns vão passando para o outro lado. Fica quem ama, juntos para sempre no momento mágico em que o Sol beija o mar da Nazaré”.

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