Pesquisar:

Balanço de um ano letivo

Em jeito de balanço e tentando ainda perceber o caminho perspetivado a curto e médio prazo para ambas as Escolas, 2 alunos da Escola Profissional de Ourém (Luísa Simões, do 1.º ano de Gestão e João Vieira do 1.º ano de Design) e 2 alunas da Escola de Hotelaria de Fátima (IrynaVlasiy e Ana Girão do 1.º ano do curso de Turismo Ambiental e Rural) realizaram uma entrevista ao Diretor Executivo da Insignare, Francisco Vieira.

 

EPO: Quais foram as metas definidas para este ano lectivo em relação à EPO?

Vocês poderão não ter conhecimento mas está divulgado, particularmente no site da Escola, o seu projeto educativo. O projecto educativo foi definido para três anos, terminará no final do ano letivo 2014/2015 e é esse projetoeducativo que define os grandes objetivos. Os grandes objetivos de uma escola são sempre formar o melhor possível os seus alunos. E todo o nosso trabalho deve-se concentrar nisso. Mas para chegar aí, em cada ano é desenvolvido um plano de atividades que também é divulgado e avaliado no final do ano letivo a que se refere, normalmente em julho, numa altura em que os alunos já estão ou de férias ou em estágio. O plano de atividades resulta da experiência anterior e de muitos contributos que são dados pelos professores, orientadores de turma, supervisores de curso,coordenadores, pelos diretores pedagógicos… Tem como objetivos, em primeiro lugar a qualidade do que fazemos o que é um pouco vago. Mas pretendemos ter um ensino profissional com a máxima qualidade possível e que nos conduza o mais possível à empregabilidade. O grande objetivo deste ano letivo, e é um objetivo permanentemente reforçado nestes tempos difíceis que vivemos da sociedade portuguesa, é criar emprego. E isto leva a um esforço grande de aproximação às empresas daí que, pela primeira vez,fizemos neste ano letivo, as Jornadas da Mecânica.

A ideia é termos eventos, que não promovam tanto uma dimensão recreativa e cultural dos alunos e da escola, mas que nos liguem às empresas e que sejam eventos que também as empresas se revejam neles e que tenham interesse neles. Por vezes nós fazemos coisas em que o interesse das empresas é quase solidário. É vir à Escola porque a Escola pediu, porque conhece as pessoas, porque vai fazer uma demonstração aos alunos. Outra coisa é as empresas terem interesse e participarem num evento onde pretendem vender equipamentos, trazer empresários e tudo isso. Portanto é esta relação da Escola com a empresa, em que ficam todos a ganhar, que nos temos esforçado muito para conseguir como objetivo central. Outra coisa, e é visível também, é um objetivo que começou a ser cimentado este ano (apesar de já vir dos últimos 3 anos, mas apenas este ano teve, em termos visuais um reforço muito maior) é uma afirmação de especialização. Se olharem para a divulgação que fazemos para o próximo ano letivo, a Escola de Hotelaria aparece muito no conceito de especialização e é uma escola especializada, não pretende sair daquele caminho e tem vantagens enormes nisso. No caso de Ourém é um conceito 100% OFICINA e é um conceito claramente de ligação à empresa. Nós pretendemos fazer em Ourém, em áreas distintas, aquilo que conseguimos na Escola de Fátima. Uma Escola especializada, não para um concelho mas para uma região, e que as pessoas e as empresas percebam, quando se fala da Escola, exactamente o que estamos a falar. Cursos profissionais muitas escolas fazem, mas ter uma escola especializada reconhecida pelo tecido empresarial com elevada empregabilidade dos seus alunos, já é muito mais difícil. E o que marcou muito este ano que agora está a terminar é muito essa afirmação de especialização, de prática e de ligação à empresa.

 

EHF: Em relação à EHF está satisfeito com os resultados académicos e profissionais dos alunos?

Sim. Completamente. Estamos muito satisfeitos. Os níveis de empregabilidade dos alunos da Escola de Hotelaria sempre foram excepcionais, não é uma novidade. A Escola de Hotelaria fez, este ano letivo, 20 anos e fez-se um estudo do percurso dos alunos (que vai ser publicado em breve) ao longo de 20 anos. O que é um dado fantástico. Este estudo permite perceber o quê? Perceber que sucesso tiveram, que dificuldades encontraram na empregabilidade, quanto ganham, quanto tempo demoraram a encontrar o 1.º emprego, se mudaram de atividade (porque há muitos casos de alunos que tiram um determinado curso e depois exercem, durante uma vida inteira, uma outra atividade completamente diferente) e os resultados são bastante positivos.É um setor que continua a revelar grandes carências de mão-de-obra especializada. É um setor que está na moda também, particularmente o curso de cozinha por razões que todos conhecem. Continuamos a conseguir atrair muitos alunos, num período em que os jovens são um bem escassíssimo. As escolas hoje debatem-se com falta de jovens. Não basta colocarmos outdoors e fazermos publicidade. Temos que ser uma escola boa porque os alunos e as suas famílias escolhem as melhores escolas para o seu futuro. Seria errado pensar o contrário. Portanto nós nisso estamos muito satisfeitos. Temos também a noção de que todos os dias numa escola há que mudar, há que fazer algo melhor, há que corrigir e é isso que tentamos. Mas estamos muito satisfeitos com os resultados de Fátima, sim.

 

EHF: E ao longo destes 20 anos quais foram as maiores dificuldades?

As maiores dificuldades foram as iniciais. A Escola de Hotelaria começou como um pólo da Escola Profissional de Ourém e os alunos que lá passaram, penso até que de forma simpática, classificavam a Escola, como uma escola-corredor. Era um corredor onde se distribuíam as salas de um lado e de outro, tinha as cozinhas, um restaurante mas a verdade é que se formaram nessa escola-corredor o chefe cozinheiro do ano 2012, chefes de cozinha, chefes de sala, escanções que estão em alguns dos melhores restaurantes do mundo. Mas essa afirmação inicial foi muito difícil. Foi muito difícil porque estávamos integrados noutra entidade (CEF – Centro de Estudos de Fátima), não conseguíamos afirmar a nossa singularidade, a nossa diferença. O CEF é uma grande estrutura de ensino e nós estávamos lá num cantinho e era muito difícil afirmarmo-nos. Depois, inicialmente, o setor não nos reconheceu competência para abraçar aquele projeto porque diziam que eram uns cursos apoiados pela União Europeia para alunos que não queriam estudar, para os piores alunos. Portanto nós vivemos tudo isso. Obviamente que 20 anos depois, a Escola de Hotelaria é o que é e sonha ser mais. É mais ou menos conhecido que temos limitações ao nível do espaço e vocês vivem-nas todos os dias. O edifício, que era um antigo seminário, tem muitas limitações ao nível do desenvolvimento das componentes técnicas dos cursos, portanto vivemos com alguma dificuldade essas limitações mas estamos a trabalhar para construir uma nova escola. Não vai ser fácil mas é preciso sonhar. Hoje ninguém põe em causa que os alunos de uma escola profissional e muito particularmente nesta que estamos a falar são os piores ou os melhores alunos. Hoje isso nem se discute. O setor precisa de profissionais. Ao longo do último ano, o Gabinete de Inserção Profissional (GIP) que temos a trabalhar para a Insignare e que apoia as Escolas e também as pessoas desempregadas e as empresas, semanalmente propôs trabalho ao setor da hotelaria, da restauração e do turismo. E nós fomos incapazes de responder aos pedidos das empresas. Portanto nós estamos ainda muito longe de conseguir formar os técnicos necessários àquilo que o tecido empresarial precisa. Há um trabalho infindável o que não quer dizer que nós vamos crescer na proporção do que nos procuram… tem que haver um equilíbrio. Mas a verdade é que estamos muito longe de conseguir responder àquilo para que foi criada a Escola há 20 anos, responder às necessidades de mão-de-obra especializada das empresas… estamos muito longe disso.

 

EPO: No último filme de divulgação da EPO não eram apresentados os cursos de Gestão e Design. Era só mais oficina. Não acha que também deveria divulgar estes cursos?

Acho que sim, e divulgamos. A questão que se passa com os cursos de Gestão e de Design (até mais com o curso de Gestão porque foi o primeiro curso da Escola, há 24 anos iniciámos a Escola com o curso de Gestão) é que é interessante verificar que, ao longo deste período, o curso de Gestão sempre teve uma boa adesão ao mercado de trabalho. Os alunos de Gestão, ao contrário do que pensam as pessoas que decidem sobre a abertura dos cursos, têm uma grande adesão ao mercado de trabalho pelo tipo de empresas que caracterizam o nosso tecido empresarial da região. Estes técnicos de gestão sempre conseguiram emprego com relativa facilidade. A questão que se coloca com os cursos de Gestão e de Design é que têm uma classificação em termos de prioridade nacional muito baixa e nós tivemos uma imensa dificuldade, já nos 2 anos anteriores, em conseguir aprovar esses cursos. Não temos certeza nenhuma, neste momento, se vamos conseguir… nós pensamos que sim, que continua a fazer sentido existir o curso de Gestão e o curso de Design. Este último porque é transversal a toda a atividade industrial e comercial. E é um erro de toda a atividade empresarial portuguesa a desvalorização que tem dado ao Design. O design incorpora tudo e nós, por vezes, não acrescentamos valor aos nossos produtos porque não integramos a componente de design. Nós repetimos os produtos já concebidos. E não acrescentando valor vendemos mais barato, ganhamos menos, somos mais pobres. Mas a questão objetiva tem a ver com o facto de tanto o curso de Gestão como o curso de Design terem uma classificação (a classificação é de 0,1, 2 e 3) dada pelo Ministério da Educação e pelo Instituto de Emprego como prioridade 1. Para terem uma ideia os cursos de mecatrónica e de metalomecânica aparecem com prioridade 3. Nós já tivemos que tomar a decisão há uns meses atrás de definir quais os cursos que pretendemos abrir, com vista a que essa decisão seja aprovada. Porque temos professores, temos uma escola para gerir e temos que ter sobretudo cursos que tenham esta forte adesão às necessidades das empresas para que os alunos tenham trabalho. Mas isso para nós sempre foi muito importante. Penso que o sucesso, que é sempre relativo, da Escola Profissional de Ourém e da Escola de Hotelaria de Fátima tem muito a ver com esta preocupação que sempre existiu, mesmo quando a escola tinha 23 alunos, quando começou.Sempre houve esta grande relação com as empresas,esta preocupação em que os alunos comecem a trabalhar rapidamente, que integrem e que tenham sucesso.

 

EHF: Que áreas é que pretende abrir na Escola de Hotelaria de Fátima?

É muito simples. Exatamente as que estão a funcionar. Mas temos vindo a criar, aliás já está criado neste momento, um novo curso de nível de 4 na área de Pastelaria-Padaria. Este curso foi um trabalho conjunto (que nos honrou muito a nós) entre a Escola de Hotelaria de Fátima e o Turismo de Portugal, com o seu departamento central de formação. Concebemos um curso novo. Há um tempo atrás pegamos neste curso e fomos apresentá-lo a França, à Escola Nacional Superior de Pastelaria que é a máxima referência mundial de escolas de pastelaria. Estivemos dois dias, apresentámos o curso, viemos muito satisfeitos porque eles nos validaram a qualidade do trabalho que tinha sido feito em conjunto. Estamos agora a preparar um documento final para que ele seja apresentado cá em Portugal ao Ministério da Educação. Nós gostaríamos que ele pudesse abrir já em Setembro deste ano, mas achamos que não vai ser possível. Também não há que ter pressa. Ele poderá abrir no próximo ano. À partida abrirá pelos primeiros 3 anos em apenas duas escolas: na Escola de Hotelaria de Fátima e numa escola a decidir pelo Turismo de Portugal. Nesses três anos o curso será monitorizado, para se ir corrigindo (porque na prática há sempre muitos ajustes a fazer) e passados esses três anos será aberto a todas as escolas de hotelaria que o queiram utilizar. Achamos que há uma lacuna muito forte nesta área. Achamos que a pastelaria e a padaria em Portugal estão muito atrasadas em relação a muitos países da Europa e que é uma área de trabalho excelente e que muitos jovens que hoje estão a tirar um curso de cozinha-pastelaria em que a componente de pastelaria é pequena, poderão tirar o curso de pastelaria e dentro dele especializar-se numa ou noutra área: em padaria ou pastelaria ou até trabalhar em ambas as áreas. Não temos mais nenhum objetivo de criação de cursos. Queremos ser uma escola especializada na fileira de hotelaria, restauração e turismo. Também o curso de turismo é muito importante porque ele é transversal a toda a área de hotelaria por isso e é importante que a formação que fazemos em turismo possa garantir que estes jovens não fiquem limitados a quase um trabalho de escritório em agências de viagem que afunila muito as suas opções mas que eles possam também ter formação que lhes permita trabalhar com relativa à vontade em empresas de eventos, na receção de hotéis, em animação turística…. E num país que depende tanto do turismo acreditamos que há ainda muito para fazer.

 

EPO: A EPO e a EHF participaram, ao longo deste ano, em vários projectos internacionais, como por exemplo o Comenius. Qual é a mais-valia desses projetos?

Quem não gosta destas coisas tende a dizer que servem apenas para passear. Eu acho que mesmo para passear é muito bom. Não sei se têm a noção mas temos alunos aqui na Escola que a primeira vez que foram a Lisboa foi a Escola que os levou. Temos alunos na Escola que a primeira vez que foram ao estrangeiro foi com a Escola. Eu costumo dizer que a expressão é “dar-lhes mundo”. Se nós pudermos dar o máximo de mundo aos nossos jovens teremos melhores jovens, jovens mais abertos, mais agressivos perante a vida e perante o mundo e melhores cidadãos. Eu sou um grande defensor, nem que seja para fazer turismo, destes projetos. Há uma dimensão cultural e social tremenda. Saber aceitar diferentes costumes, diferentes culturas. O mundo precisa disso. Nós temos jovens que ficaram em famílias turcas que vivem uma realidade muito distinta da nossa mas que os jovens conseguem ultrapassar e aceitar coisa que os adultos têm muita dificuldade em fazer. Não é só esse o objetivo, mas é também objetivo esta afirmação, esta comunhão social e cultural que a viagem e a estadia em outro país ou recebendo cá jovens, dá. Mas aquilo que é mais importante para nós é a experiência de estágio e a experiência de trabalho. Estão agora alunos em San Sebastian, no País Basco, alunos que dizem que é um experiência fantástica porque é uma cidade completamente virada para a gastronomia, quer na confeção de cozinha, quer na componente de restaurante, de serviço de mesa. É uma experiência fantástica que já se repete, pelo menos pelo 3.º ano. Estão alunos na Escócia, estão alunos na Polónia e há alturas em que temos um ritmo de viagens significativo mas é evidente que fazemos isto porque existem fundos da União Europeia que permitem suportar isto tudo. Nós não temos custos absolutamente nenhuns e possibilitamos aos nossos jovens esta fantástica experiência. Até hoje tudo tem corrido muito bem. Os jovens têm estado à altura dos desafios. Nunca houve verdadeiramente um problema. E quer as pessoas que recebermos cá, quer os nossos alunos e professores que vão ao estrangeiro têm tido experiências muito boas. E ficará para sempre na memória deles essa experiência. Só é pena não poder ser para todos. Mas claramente o objetivo é estágios, diferentes experiências de trabalho. Eu no ano passado estive na Estónia onde estavam 6 alunos do curso de informática que estiveram 2 meses a trabalhar. Fui buscá-los e reuni com as empresas onde eles tinham estagiado e a experiência foi fantástica, mesmo com todas as dificuldades: linguística, de adaptação a um novo espaço, a novas lógicas de trabalho. Todos aprenderam e um deles voltou para lá e haviam dois que estavam a trabalhar para uma das empresas de lá mas cá em Portugal. Por isso estes projetos são muito importantes e continuaremos a dinamizá-los enquanto houver apoio financeiro e até a intensificá-los. Temos um pequeno departamento que só trabalha nisso e gostaríamos que as pessoas envolvidas nestes projetos pudessem ser mais.

 

EHF: O que significa para si ser diretor de duas Escolas Profissionais?

Eu estive na fundação da Escola há 25 anos… faz no ano de que vem 25 anos que tive esta primeira função. É uma função que tem uma grande vantagem. Não é monótona. Todos os dias acontecem coisas. Quando trabalhamos com pessoas e elas acordam mal ou bem dispostas, com ideias boas ou más leva a que todos os dias sejam novidade. O chegar à Escola é sempre uma vivência entusiasmante. Quando iniciámos a Escola há 25 anos eu tinha alguma experiência. Tinha-me licenciado há pouco tempo. Tinha alguma experiência curtíssima do ensino, trabalhava nas empresas e dava umas aulas… comecei em Mira d’Aire, depois no Centro de Estudos de Fátima até que surgiu esta possibilidade. Era preciso alguém para dirigir a Escola e foi um pouco por acaso. Depois tive outras experiências, passei por outros locais como nas grandes escolas de hotelaria do país, no concelho de administração. Aquilo que gosto mais na educação e enquanto diretor de escola é o que consigo fazer menos porque as obrigações são muitas: é estar perto dos alunos. Mas preciso de estar muito tempo fechado nestes gabinetes e estar muito longe dos alunos. Mas é impossível de outra forma. Nós temos que ter opções e a Insignare tem hoje, para além das Escolas, outras acividades. É uma entidade com uma dimensão significativa e é importante para nós essa dimensão porque permite-nos ter estabilidade, permite-nos ter diferentes fontes de financiamento. Temos cerca de 150 pessoas que trabalham na Insignare e é uma responsabilidade muito grande. Ser diretor de escola é entusiasmante. É construir o futuro. Quem é que não gosta de ter um trabalho em que se construa o futuro, que seja diferente. Tem momentos maus e momentos bons mas o balanço é francamente positivo. Faço com muito gosto e já tive outras experiências profissionais mas é isto realmente que eu gosto de fazer e que acho que tenho algum jeito também. Mas gostaria de estar mais próximo dos alunos.

 

EPO: Quais os pontos fortes e menos bons das nossas Escolas?

Ponto forte é claramente a imagem que as duas Escolas construíram ao longo destes quase 25 anos. Conseguimos criar essa boa imagem a todos os níveis. Às vezes,nós aqui localmente não temos noção disso. Achei interessante uma aluna, num daqueles almoços da turma do período, a quem perguntei porque é que tinha vindo para esta Escola que disse que tinha vindo porque a vizinha também veio mas que nem sabia que esta escola era tão boa. Achei piada à forma como disse aquilo. Nós sempre tivemos uma atitude muito empreendedora, muito forte, muito positiva perante as coisas (devo lembrar que o curso de gestão foi criado aqui, na EPO, há 25 anos atrás. Depois evoluiu bastante, mas nasceu aqui) e isso levou a que as Escolas sejam reconhecidas. Outro ponto forte associado a este é que há, sempre houve, alguma cultura de exigência. Se vocês repararem uma parte significativas das pessoas que dirigem as Escolas, que estão em cargos de direção, de coordenação são ex-alunos de ambas as Escolas. E isso ajuda muito. Parecendo que não eles conhecem todo o percurso, o funcionamento e passaram pelas dificuldades que vocês agora passam. Não é um fator decisivo mas não escondemos esse fator de preferência na contratação porque isso acresce-nos o sentido de grupo e uma cultura própria da entidade. Depois há um outro ponto forte que tem sido uma postura solidária das entidades proprietárias. Às vezes esquecemo-nos, e vocês não têm que ter essa noção, mas há 3 entidades – a ACISO, a Câmara Municipal de Ourém e o Centro de Estudos de Fátima – que são os donos da Insignare. E sempre houve uma grande serenidade, uma atitude solidária perante a gestão das Escolas. Depois a Insignare tem tido uma estabilidade muito grande em termos da sua direção. E isso é também muito importante. Ao longo destes 25 anos existiram apenas 3 diretores. Eu iniciei, fui substituído pela Dr.ª Purificação que já fazia parte da Escola e que se manteve por muitos anos, depois o Dr. Sérgio Fernandes por um breve período de tempo e depois regressei novamente. Portanto há aqui um conhecimento muito profundo desde que se teve que comprar a primeira mesa ou contratar a primeira pessoa até aos dias de hoje. A históriatoda agente a tem na cabeça e isso parece-nos muito importante.

Os pontos fracos que nós temos penso que decorrem daquilo que é a nossa sociedade, da organização da sociedade portuguesa. Pensar-se que ainda vivemos numa sociedade onde há coisas que são garantidas e falo de postos de trabalho, pensar-se que podemos parar e termos um bocadito de preguiça e achar que nada nos acontece o que é redondamente mentira. À nossa volta, os nossos concorrentes, as outras Escolas são cada vez mais agressivas, mais empenhadas. Cada vez estão a fazer melhor e portanto nós teremos que fazer ainda melhor. Penso que é, por vezes aí, que há algum facilitismo. Alguns dos nossos colaboradores não estão imbuídos nessa necessidade constante de fazermos melhor e não nos distrairmos com coisas que não têm valor nenhum. Como em tudo, às vezes não nos focamos naquilo que é essencial na nossa vida e andamos entretidos com aquilo que tem pouco significado. Temos que nos focar no que é importante e que rasga caminho. Em relação às dificuldades e pontos fracos ao longo destes 25 anos. Fomos sempre considerados um parente pobre do sistema de ensino. Mas a verdade é que passou este tempo todo e isso vai perdendo sentido. Nós éramos a Escola que recebia os alunos que ninguém queria, nós éramos a Escola que recebíamos os piores alunos mas a verdade é que foi com esses alunos que nós construímos estas duas Escolas. E são esses alunos que são hoje grandes empresários e grandes profissionais… e eram os piores alunos, aqueles que ninguém queria. É essa imagem negativa que ainda hoje, às vezes, nos tentam associar (que é uma Escola para aqueles que são menos capazes) o que é um erro tremendo. É um erro tão grave porque é um erro de distração daquilo que é o mundo e a Europa onde vivemos. Quando se aponta que temos que atingir em Portugal 50% dos jovens no Ensino Profissional (e estamos a 20% que isso aconteça e é uma distância muito grande) tal como acontece nos países desenvolvidos da Europa, nós só teremos possibilidade de ser um bocadinho mais ricos, de viver com mais desafogo e não com esta tristeza constante de termos que andar a pedir dinheiro emprestado ao estrangeiro quando (e um dos factores é também esse) tivermos 50% dos alunos no ensino profissional. E para os termos as escolas têm que ser boas, têm que ser especializadas e as escolas têm que estar directamente ligadas às empresas. Na escola, parte do dia-a-dia dos alunos, tem que ser muito semelhante àquele que se vive na empresa. Na Escola de Fátima isso vive-se de algum modo. Há áreas onde isso se vive muito próximo. Estar a fazer um almoço para o restaurante de aplicação ou para o refeitório é como fazer o almoço ou o jantar num hotel ou num restaurante. Nós queremos fazer isto em Ourém. É mais complexo mas o conceito de Escola Oficina é claramente um conceito de criar na Escola uma parte do ambiente da empresa. Não pode ser tudo. Tem que haver salas de aula, os alunos têm que estudar… mas é preciso criar um pouco isto e as empresas são muito mais exigentes que a escola ao contrário do que se pensa. Às vezes os alunos queixam-se disto e daquilo como por exemplo das fardas, mas nas empresas é muito pior. Nas empresas não se facilita. A pessoa ou cumpre ou vai embora. É simples.

 

EHF: Gostava que em três palavras caracterizasse a Escola de Hotelaria de Fátima.

A primeira delas é TRABALHO. Trabalho porque a Escola de Fátima construiu-se muito com uma grande disponibilidade de trabalho de todos os seus atores. É interessante ver, por exemplo, entidades de Leiria que nos pedem para fazer um beberete, um almoço … têm lá uma escola com os mesmos cursos e porque é que não lhes pedem? E a questão é sempre a mesma. Nós construímo-nos muito com uma grande disponibilidade para o trabalho e isso é fundamental. Talvez não tenhamos ganho muitas vezes em requinte e qualidade mas em trabalho e em disponibilidade a EHF sempre foi muito disponível. Outra palavra que é fundamental para aquilo que é a Escola e para aquilo que poderão ser os seus alunos é HUMILDADE. Tudo na vida, mas a hotelaria em especial, é uma atividade que obriga a um grande sentido de humildade. Quando estamos a servir à mesa  encontramos clientes aborrecidíssimos e ingratos e mal-educados e temos que ter a humildade, a sabedoria de estar calados para aguentar aquilo com cortesia, com simpatia e da melhor forma possível por muito que nos custe. E penso que essa humildade foi também muito importante no início quando nos disseram que não éramos capazes de criar uma Escola de Hotelaria. Penso que aqui a humildade sempre foi importante. A humildade para acreditarmos que era possível, a humildade que passou para os alunos e que é importante que continue sempre a passar. A humildade é sempre fundamental no desempenho profissional de toda a gente e os jovens têm que aprender que a humildade é o segredo do sucesso. Uma humildade inteligente e não subserviente. Saber que todos os dias temos muito para aprender e ter essa humildade, essa disponibilidade para isso. Uma terceira palavra poderá ser a palavra FUTURO. Eu acho que a Escola também é aquilo que é porque sempre tivemos projetos, vontades e sempre acreditámos que queríamos ir a mais algum lado. Estamos a fazer um novo curso e não sei se haverá alguma escola em Portugal que tenha coragem de pegar e fazer um novo curso e propor ao Ministério esse novo curso. Temos o projeto das novas instalações da Escola e outras coisas virão. O curso vai ficar muito agarrado a uma atividade que se chamará Mundo Doce Fátima que é uma atividade, um encontro de pastelaria, de pasteleiros portugueses, de jovens que estudam pastelaria em Portugal. Objetivos existem muitos mas esta perspetiva de olhar para o futuro também é importante para os alunos que estão na Escola. E depois levam a coisas engraçadas que é os alunos que já saíram dizerem que no seu tempo não havia isso. É por isso importante acreditar no futuro e ir tendo objetivos.

 

EPO: É certo que a estratégia para o próximo ano da EPO e da EHF já está a ser traçada. Quais são ser as principais diferenças em relação a este ano?

Vão haver diferenças e a grande diferença, por estranho que pareça, vai ser a grande preocupação de todos os outros anos: o reforço de aproximação às empresas porque assim criamos emprego para os alunos e assim criamos melhor formação. Quanto mais tempo conseguirmos ter profissionais a falar com os alunos na Escola, quanto mais conseguirmos criar dentro da Escola o tal rigor, o ambiente de empresa melhor será para os alunos. E aí irá haver mudanças, com toda a certeza. As mudanças serão sempre para mais rigor, para mais atitude numa Escola e noutra. Penso que muito mais sentida na Escola de Ourém do que de Fátima onde as coisas são um pouco diferentes. Mas muito mais rigor, muito mais controlo de tempos de entrada e de saída, de apresentação, de trabalho, de desenvolvimento. Mas claramente o conceito de Escola Oficina é um conceito de trazer para dentro da Escola, tanto quanto possível o mundo da empresa. Até para os alunos estarem mais preparados para quando integrarem os estágios. Claramente mais mundo de empresa, mais prática, mais oficina. Desde o laboratório de informática, à sala de aula (que pode ser também uma oficina). Portanto esse conceito não quer dizer que têm que estar todos a serrar e a martelar. O conceito oficina é um conceito que retoma um pouco o conceito clássico do trabalho, da importância do trabalho e das nossas mãos. Também na Gestão e no Design, importantes são a cabeça e as mãos. Sem isso não se constrói. E às vezes esquecemo-nos um pouco disso e seja onde for é importante ter isso.

 

EHF: Uma mensagem para os alunos que estão a pensar entrar, no próximo ano letivo, na EHF.

Nós escrevemos na revista de divulgação da EHF o seguinte: “Todos os momentos vividos são momentos de aprendizagem numa linguagem e num ambiente sem fatores de distração. Concentrados garantimos a melhor escola e nela construímos os melhores alunos: os nossos.” Por isso se eles querem ser os melhores alunos que melhor mensagem para eles virem para esta Escola… e na revista da Escola Profissional de Ourém diz mais ou menos uma coisa do género. Tirando esta parte mais de marketing, a mensagem é para se informarem. Nós temos muita pena que as famílias não acompanhem os seus jovens para obterem informação. Nós continuamos teimosamente a manter a atividade do Dia Aberto ao sábado e vão lá meia dúzia de pessoas, quando em todos os países desenvolvidos é nesse sábado que vai a família toda (o pai, a mãe, os irmãos mais novos) e depois, em casa, decidem qual é a escola onde querem colocar o seu filho.

Nós aqui entregamos aos jovens, muito novos, essa decisão. A maior parte dos miúdos ficam sozinhos a decidir. E era importanteeles informarem-se, visitarem instalações, falarem com outros jovens que já lá estão, ver equipamentos, falar com os professores e decidir. Eu penso que em primeiro lugar os jovens, os nossos potenciais futuros alunos, devem informar-se. O que há, o que é que eu quero e quais são as escolas que há e, a partir daí decidirem. É evidente que nós receberemos todos esses melhores alunos de braços abertos. Garantidamente estamos a fazer um percurso que permitirá aos nossos alunos serem melhores nos próximos anos. No caso da Escola Profissional de Ourém por causa desta grande alteração, vai-se sentir muito a todos os níveis de integração deste conceito, desta agressividade perante o exterior. No caso de Fátima chama-se qualidade. Penso que atingimos um nível bom em termos de esforço de formação, mas falta aqui a parte do requinte, um apurar da qualidade que vai dar muito mais trabalho e vai também obrigar a alterações significativas, a reforço de procedimentos. O rigor e a exigência perante os alunos vai ser muito maior porque esse salto é que é preciso dar. E vai ser penalizador para os alunos. Vai ser mais difícil do que as exigências que tiveram até agora. A Escola vai ter que ser mais rigorosa para que os alunos que consigam aceitar esse rigor se sintam mais capazes. Admitimos que isso levará, certamente, a perder alguns alunos, mas estamos já muito por esse caminho. Penso que isso será certamente aquilo que mais marcará o próximo ano letivona Escola de Hotelaria de Fátima. Vai ser um processo forte e difícil porque o que nós atingimos demorou muito tempo, mas precisamos de subir um pequeno nível, mas vai ser mais difícil este pequeno salto do que tudo o que se fez para trás. Tem a ver com a qualidade, com uma qualidade muito rigorosa do desempenho, da disponibilidade, da atitude, da maneira de estar. Nós já fazemos muita coisa bem mas, como eu dizia ao início, é muito em quantidade e precisamos começar a fazer em qualidade, mantendo a quantidade possível. Fazemos coisas interessantes e muito inovadoras. Já estamos, por exemplo, a servir refeições, numa unidade hoteleira, produzidas por nós. Esta ligação é efetiva, não é um estágio é um ambiente real de trabalho e não se pode falhar nesses momentos. Por isso, mais do que nunca, a qualidade é de extrema importância.

Imagens