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Alunos da EPO e EHF entrevistam Francisco Vieira, Diretor Executivo da INSIGNARE

O Diretor Executivo da INSIGNARE foi entrevistado por 2 alunos da Escola Profissional de Ourém e 2 alunos da Escola de Hotelaria de Fátima. Num momento informal, os alunos tiveram oportunidade de conhecer quem é o homem que está à frente da Direção das Escolas, conhecendo um pouco do seu dia a dia, dos seus sonhos, das suas preocupações e ambições. No final brindaram aos jovens e a um futuro risonho nas suas carreiras.

 

EHF - Enquanto diretor da EHF como se caracteriza? E como pessoa?

Posso dizer que enquanto diretor passo menos tempo na escola do que o que gostaria. O desejável era conhecer todos os alunos, mas a própria dimensão da escola assim o impede. É o Diretor Pedagógico que está presente diariamente na escola, sendo ele quem aí me representa. Para além disso, acredito que o olhar à distância vê melhor as fraquezas. Quinzenalmente, reúno-me com os diretores pedagógicos para trocarmos opiniões, impressões e para poder estar ao corrente do que acontece. 

Enquanto pessoa… Sou um entusiasta, pois acredito fortemente nos projetos. Sou uma pessoa que encara com entusiasmo todos os desafios da escola e até da vida. Defendo que se colocarmos entusiasmo em tudo o que fazemos, trabalharemos melhor. Outros fatores importantes são o rigor e a humildade, que são fundamentais para podermos trabalhar com gosto.

 

EPO - Nestes 26 anos enquanto diretor e fundador da EPO/EHF qual foi o seu maior desafio?

O maior desafio foi dar os primeiros passos, viver os primeiros momentos e os primeiros anos… A escola “arrancou” na cave da Associação Empresarial de Ourém-Fátima (ACISO), com a ajuda da Câmara Municipal de Ourém, uma vez que o financiamento só veio um ano depois.

Tínhamos um conjunto de formadores com forte experiência no ensino secundário público e privado, que foi a base de todo o ensino profissional da escola. Na altura, uma vez que o ensino profissional estava a começar a nível nacional, muitos dos programas foram feitos por esta equipa. Foi, sem dúvida, um grande desafio aguentar o primeiro impacto com poucos meios e condições.

 

EHF - Se fosse um jovem de 15 anos a terminar o 9.º ano escolheria a EHF? Quais as grandes razões para escolher/ou não esta escola?

Bem… Eu era um aluno difícil… (risos)! Muitas vezes, não percebia para que é que algumas disciplinas serviam… Pensava noutras coisas. Era muito sonhador, entrava em brincadeiras e, por isso, era exemplarmente castigado. Posso dizer que era um aluno revoltado com a inutilidade daquilo que me ensinavam. Por esse motivo, acredito que o ensino profissional seria uma escolha. Possivelmente escolheria a área de Cozinha/Pastelaria, pois é uma tentação pela sua beleza!

 

EPO - Já considerou a hipótese de expandir as escolas a nível nacional e/ou internacional? Quais as zonas e/ou país(es) que escolheria?

Sinceramente não. As escolas têm crescido ao longo destes anos… Com o crescimento do ensino profissional em escolas do ensino regular, é cada vez mais difícil ter o número de alunos ideal. No nosso concelho, já temos 50% dos alunos no ensino profissional. Cada vez mais, a chegada à escola depende do que os alunos transmitem uns aos outros. É essencial cativar os alunos para que saiam das suas escolas e escolham uma que não conhecem. Acredito que o futuro das escolas não será risonho e que apenas sobreviverão aquelas que tenham um ensino mais especializado, com professores estáveis e com o Know-How, como acontece já na EHF. A EPO passou por uma mudança radical nestes últimos sete anos, com cursos oficinais, na área da mecânica.

Apesar de não considerar expandir as escolas nacional ou internacionalmente, tenho a ambição de construir as novas instalações da EHF e ver a EPO crescer e ganhar esse Know-How. Acredito, ainda, na aposta em grandes áreas, como a área das pedreiras (CNC aplicado à pedra) e da cerâmica. E porque não ter uma terceira entidade/polo? Claro que não coloco de parte estabelecer parcerias a nível internacional.

 

EHF - Acha que a EHF já é uma escola de referência na Hotelaria e Restauração? Porquê?

Sim, a EHF já é uma escola de referência. Às vezes, não somos reconhecidos localmente como gostaríamos, mas somos reconhecidos pelos nossos pares, pelo nosso trabalho e competência. O salto para a excelência só se dará com as novas instalações técnicas. 

 

EPO - Sendo formado em História e tendo gosto pela arte, que quadro escolheria para retratar este seu percurso pela escola? E a sua vida?

Escolheria José Malhoa, pois ele retrata, como nenhum outro, a sua vivência na sociedade portuguesa. Tem um pouquinho de tudo: é feito de adversidade, mas também de felicidade; o percurso de vida que todos fazemos, do mais simples ao mais complexo.

EHF - No que diz respeito ao ensino em Portugal como acha que estamos? E para onde caminhamos?

Estamos bem, mas como em tudo na vida, a educação deve ter uma evolução. Podemos procurar conhecer outras realidades, mas nem sempre as podemos aplicar no nosso país.

Comparando com os modelos da Alemanha e Finlândia, em que o ensino dual é uma realidade, e os alunos de manhã estão na escola e à tarde nas empresas, em Ourém isto não seria exequível, dada a nossa frágil rede de transportes. Uma escola deve estar numa permanente ebulição, testando métodos, estratégias, etc. Temos muitas coisas boas, mas precisamos de autonomia pedagógica na escola. 

A escola ideal seria uma escola especializada numa grande área, com uma linha de pensamento diferente, onde mais importante do que a qualidade técnica, é dar aos alunos um conjunto de experiências que lhes permitam estar bem enquanto cidadãos (relações familiares, cultura geral, emocionalmente, etc.). Numa escola ideal, a prioridade seria garantir que os alunos viessem a ser bons cidadãos e, naturalmente, também bons técnicos. É, ainda, essencial respeitar os alunos tendo em conta as suas capacidades, embora o trabalho do professor se torne mais difícil, uma vez que este tem que individualizar o processo de ensino / aprendizagem. 

 

 EPO - Qual a sua viagem de sonho e porquê?

Viagem de sonho é sempre a próxima viagem! (risos) Mas seria uma ilha no Índico – Zanzibar. Escolheria este destino pela dimensão da História de Portugal que ela envolve, uma vez que foi aí que Vasco da Gama atracou. 

Mas confesso que gosto mais de planear e programar do que viajar propriamente. Eu viajo para conhecer o povo, viver experiências, trazer histórias para contar. Confesso que gosto de viajar a pé. Fiz os Caminhos de Santiago e essa foi uma experiência magnífica porque andamos lado a lado com as pessoas e com a natureza. 

Também gostava de fazer o troço do Expresso do Oriente, entre Paris e Veneza! Deve ser uma experiência hoteleira de topo, apesar de ser dentro de um comboio!

 

EHF - Se pudesse voltar ao passado e escolher outra coisa diferente do que fez e chegado onde chegou, o que faria?

Não alterava nada. Tive momentos bons e momentos maus, mas consegui sempre ter uma atitude positiva e ser feliz com o que tinha. Aprendemos com todos os momentos, bons ou maus. Uma coisa é certa: aprendi que só nos devemos arrepender daquilo que não decidimos fazer.

 

EPO - Qual a pessoa/personalidade que mais admira ou que o marcou mais até hoje? Porquê?

Não consigo ter ídolos… Sempre achei que poderia fazer igual ou melhor. Claro que há pessoas que admiro, mas não considero que sejam meus ídolos.

Tenho um livro: “A um Deus desconhecido” de John Steinbeck, e uma música “Ne me quites pas”, de Jacques Brel. 

Houve duas pessoas que, em termos de personalidade, me impressionaram: o Papa João Paulo II e a Irmã Lúcia. Foram pessoas felizes porque brincavam com as coisas… Tinham um olhar tão profundo, que parecia que caíamos lá dentro…

 

EHF - Gostaria de sugerir algo para a nova era de alunos que, um dia, talvez venham a ser diretores também?

Muitas coisas. Quem almejar ser Diretor, deverá ter uma permanente abertura a novos conhecimentos, a novas realidades e a novas experiências. Deve, sobretudo, ser ele o provocador da mudança, ouvir sempre todas as pessoas, mas decidir sempre sozinho, sempre em função do coletivo. Às vezes, há decisões que se tomam que só são percebidas passado algum tempo. A convicção é também muito importante, assim como ter um espírito aberto, abertura à inovação, chegar sempre primeiro que os nossos concorrentes. Isso dá-nos muita vantagem. Deve ser, ainda, competitivo e dar-se ao respeito.

Há momentos que não dão para rir muito, mas em que a autoridade deve ser exercida. O diretor ideal é o que consegue, com um olhar, perceber o problema da estrutura que comanda.

 

EPO - Sente-se uma pessoa realizada?

Completamente. Sinto-me satisfeito comigo porque sempre, na minha vida, tomei decisões que acabaram por dar certo. Tenho a liberdade de poder fazer o que quero. 

 

EHF - Qual seria a pequena mudança que poderíamos fazer na EHF e que traria o máximo de resultados?

Reforçar o controlo de entradas na escola e melhorar a pontualidade de alunos e professores. A pontualidade deve ser uma forma de estar permanente na nossa vida.

 

EHF - Podemos saber o que lhe vai na alma?

Vai uma grande satisfação pela família que tenho, que vai desde os 87 anos do meu pai aos sete anos do meu filho. Não me resta mais nada do que a serenidade. Chega um momento em que não temos medo de nada. Estou preparado para tudo. 

Fiz sempre o que gostava de fazer. Gostei sempre das pessoas com quem trabalhei e aprendi sempre com todas. Cultivei amizade com pessoas que só vejo de tempos a tempos. É bonito vivermos com satisfação e serenidade. São os momentos difíceis que nos ensinam isto. Sou feliz. Muito feliz mesmo.

 

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